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O significado de kusala e akusala
Kusala e akusala como catalisadores mútuos
Como kamma está diretamente relacionado com o bom e o mau, qualquer discussão sobre kamma tem que incluir também uma discussão sobre o bom e o mau. Os padrões para definir o bom e o mau, no entanto, não estão isentos de dificuldades. O que é “bom” e porque é assim? O que é que chamamos de “mau” e porque é assim? Essas dificuldades na verdade são um problema de linguagem. Nos ensinamentos do Buda, que estão fundamentados em Pali, o significado é muito mais claro, como será demonstrado a seguir.
As palavras “bom” e “mau” possuem significados bastante amplos e em particular a palavra “bom,” usada com mais freqüência do que “mau.” Diz-se que uma pessoa virtuosa e moral é boa; uma comida deliciosa é chamada de “boa” comida; um pedaço de madeira que tem alguma utilidade pode ser chamado de um “bom” pedaço de madeira. Além disso, algo que seja bom para uma pessoa pode não sê-lo para muitas outras. Visto por um ângulo, uma certa coisa pode ser boa, mas, se vista por outro ângulo pode não ser.
Um comportamento considerado bom em uma área, região ou sociedade, pode ser considerado ruim em outra. Parece, por esses exemplos, que existe uma certa divergência. Pode ser necessário considerar a palavra “bom” sob diferentes pontos de vista, tal como bom com um sentido hedonista, bom com um sentido artístico, bom com um sentido econômico e assim por diante. A razão para essa divergência é uma questão de valores. As palavras “bom” e “mau” podem ser usadas em diferentes sistemas de valores o que faz com que o seu significado seja bastante amplo.
No nosso estudo sobre o bom e o mau, os seguintes pontos devem ser observados:
(a) Nosso estudo será feito sob a perspectiva da lei de kamma, assim estaremos usando os termos especializados kusala e akusala ou hábil e inábil, que possuem um significado bastante preciso.
(b) Kusala e akusala, na ética Budista, são qualidades da lei de kamma, portanto nosso estudo está ajustado a esse contexto e não a um conjunto de valores sociais que com freqüência são referidos com as palavras “bom” e “mau.”
(c) Como mencionado no Primeiro Capítulo, a operação da lei de kamma está relacionada com outras leis. Especialmente, no que diz respeito à vida interior do indivíduo, kammaniyama interage com as leis psicológicas (cittaniyama), enquanto que externamente ela está relacionada com a Preferência Social.
Embora kusala e akusala sejam algumas vezes traduzidos como “bom” e “mau,” isso pode levar ao erro. As coisas que são kusala nem sempre serão consideradas boas, enquanto que algumas coisas podem ser akusala e ainda assim não serão em geral consideradas como ruins. A melancolia, preguiça e distração, por exemplo, embora sejam akusala, não são sempre consideradas como “ruins.” Da mesma forma, algumas formas de kusala, tal como a calma corporal e mental podem não ser prontamente tomadas como parte do entendimento geral da palavra “bom.”
Kusala e akusala são condições que surgem na mente produzindo inicialmente resultados na mente e a partir daí para as ações externas e características físicas. Portanto, os significados de kusala e akusala enfatizam o estado, o conteúdo e os eventos mentais como base deles.
Kusala em geral pode ser interpretado como “inteligente, hábil, satisfeito, benéfico, bom” ou “aquilo que elimina a aflição.” Akusala é definido com os opostos como “não inteligente,” “inábil” e assim por diante.
A seguir encontram-se quatro conotações de kusala derivadas dos Comentários:
1. Arogya: livre de enfermidades; uma mente que é saudável; estados mentais que contêm essas condições ou fatores, que suportam a saúde mental e produzem uma mente despreocupada e estável.
2. Anavajja: imaculado; fatores que fazem com que a mente esteja limpa e clara, não manchada ou turva.
3. Kosalasambhuta: baseado na sabedoria ou inteligência; estados mentais que estão baseados no conhecimento e compreensão da verdade. Suportado pelo ensinamento que afirma que as condições kusala têm yoniso-manasikara, reflexão com sabedoria, como precursor.
4. Sukhavipaka: recompensado pelo bem estar. Kusala é uma condição que produz o contentamento. Quando as condições kusala surgem na mente, existe uma sensação natural de bem estar, sem necessidade de nenhuma influência externa.Como quando alguém se sente forte e saudável (aroga), banhado e limpo (anavajja), num lugar seguro e confortável (kosalasambhuta), uma sensação de bem estar surge de forma natural.
O significado de akusala deve ser compreendido de maneira exatamente oposta àquela mencionada acima: ou seja, como a mente que não é saudável, que é prejudicial, baseada na ignorância, resultando em sofrimento. Em suma, se refere àquelas condições que fazem com que a mente degenere tanto em termos de qualidade como eficiência, ao contrário de kusala que promove a qualidade e eficiência da mente.
Para aclarar um pouco mais esses conceitos, é recomendável revisar a descrição, encontrada nos Comentários, dos atributos de uma mente boa, aquela que é saudável e isenta de problemas e depois considerar se as condições kusala de fato induzem a mente a ser dessa forma e, se assim for, como fazem isso. Poderemos então considerar se as condições akusala privam a mente de tais estados e como fazem isso.
Para facilidade de referência, as várias características de uma mente boa, aquela que é saudável e isenta de problemas, encontradas nos Comentários, podem ser compiladas em grupos da seguinte forma:
1. Firme: decidido, estável, imóvel, sem distrações.
2. Pura e Limpa: sem manchas, imaculada, brilhante.
3. Clara e livre: sem restrições, livre, transcendente, ilimitada.
4. Adequada para o trabalho: flexível, leve, fluente, paciente.
5. Calma e satisfeita: relaxada, tranqüila, satisfeita.
Tendo analisado as qualidades de uma mente saudável, poderemos agora considerar as qualidades que são conhecidas como kusala e akusala, verificando como afetam a qualidade da mente.
Alguns exemplos de condições kusala são: sati, atenção plena ou memória, a habilidade de manter a atenção em qualquer objeto ou tarefa na qual a mente esteja engajada; metta, amor bondade ou boa vontade; não cobiça, ausência de desejo e apego (incluindo pensamentos altruístas); sabedoria, clara compreensão de como as coisas na verdade são; calma, tranqüilidade e paz; kusalachanda, zelo ou contentamento com o bem; o desejo de compreender e agir de acordo com a verdade; e contentamento pela boa fortuna dos outros.
Quando existe boa vontade, a mente está feliz, alegre e límpida naturalmente. Essa é uma condição benéfica para a psique, suportando a qualidade e eficiência da mente. A boa vontade portanto é kusala. Sati possibilita que a atenção permaneça com o que quer que seja que a mente esteja envolvida ou engajada, lembrando a ação adequada que deve ser tomada e ajudando a prevenir que condições akusala surjam, permitindo assim que a mente trabalhe de forma mais efetiva. Sati portanto é kusala.
Exemplos de condições akusala são: desejo sensual; má vontade; preguiça e torpor; inquietação e remorso; dúvida [7], raiva, inveja e avareza.
A inveja faz com que a mente se torne malévola e opressiva, claramente prejudicando a qualidade e a saúde da mente. Portanto ela é akusala. A raiva incita a mente de tal modo que rapidamente afeta até mesmo a saúde do corpo e portanto é claramente akusala. O desejo sensual confunde e obceca a mente. Isso também é akusala.
Tendo estabelecida a compreensão das palavras kusala e akusala, estamos agora prontos para compreender o kamma bom e ruim, ou kusala kamma e akusala kamma. Como já foi mencionado, a intenção é o cerne de kamma. Portanto uma intenção que contenha condições kusala é hábil e uma intenção que contenha condições akusala é inábil. Quando essas intenções hábeis ou inábeis são convertidas em ações através do corpo, linguagem ou mente, elas são conhecidas como kamma hábil ou inábil através do corpo, linguagem e mente respectivamente, ou como alternativa, kamma corporal, kamma verbal e kamma mental que são hábeis ou inábeis conforme for o caso.
Um ato de fé ou generosidade, a pureza moral ou mesmo uma experiência de insight durante a meditação, todas condições kusala, podem precipitar o surgimento da presunção, orgulho e arrogância. A presunção e o orgulho são condições akusala. Esta situação é conhecida como “kusala agindo como agente para akusala.” A prática da meditação pode levar a estados de intensa concentração mental (kusala), que por seu lado podem conduzir ao apego (akusala). O desenvolvimento de pensamentos de boa vontade e benevolência com relação aos outros (kusala) pode, com a presença de um objeto desejável, precipitar o surgimento da cobiça (akusala). Esses são exemplos de kusala agindo como um agente para akusala.
Algumas vezes a prática dos preceitos morais ou a meditação (kusala) podem estar baseadas no desejo de renascer no paraíso (akusala). O bom comportamento de uma criança (kusala) pode estar baseado no desejo de se mostrar para os mais velhos (akusala); o zelo de um estudante em aprender (kusala) pode ser derivado da ambição (akusala); a raiva (akusala), vista sob a perspectiva dos seus efeitos danosos, pode conduzir à reflexão com sabedoria e ao perdão (kusala); o temor da morte (akusala) pode encorajar a introspecção (kusala): esses são exemplos de akusala como um agente para kusala.
Um exemplo: os pais de um adolescente o advertem que as companhias dele exercem uma má influência, mas ele não lhes dá atenção e é seduzido pelo vício das drogas. Ao compreender a sua situação ele primeiro fica com raiva e deprimido e depois, lembrando do alerta dos pais, ele se sente comovido pela compaixão deles (akusala como agente para kusala), mas isso, por sua vez, apenas agrava a raiva que sente por si mesmo (kusala como agente para akusala).
Essas mudanças de kusala para akusala ou akusala para kusala ocorrem com tanta rapidez que a mente des-treinada raramente é capaz de notá-las.
Foi mencionado que a lei de kamma possui uma relação bastante íntima com ambas, as leis psicológicas e a preferência social. Essa afinidade pode criar mal entendidos com facilidade. A lei de kamma está relacionada com as leis psicológicas de forma tão próxima que parecem ser a mesma coisa, mas existe uma clara linha divisória entre as duas, que é a intenção. Essa é a essência e força motivadora da lei de kamma e é o que proporciona à lei de kamma o seu nicho distinto entre os outros niyama ou leis. Cittaniyama, por outro lado, governa todas as atividades mentais, incluindo as não intencionais.
A intenção humana, através da lei de kamma, possui o seu próprio papel distinto dos demais niyama, dando origem à ilusão de que os seres humanos são independentes do mundo natural. A intenção precisa contar com a mecânica de cittaniyama para poder funcionar e o processo de criar kamma precisa operar dentro dos parâmetros de cittaniyama.
Usando a analogia de um homem pilotando um barco a motor, o “piloto” é a intenção, que é a esfera de atividade da lei de kamma, enquanto que o motor do barco pode ser comparado aos fatores mentais que são função de cittaniyama. O piloto depende do motor do barco. No entanto, para que o “motor do barco” possa conduzir o “barco,” isto é, para que a mente dirija a vida e o corpo para qualquer direção, ela depende inteiramente do arbítrio do “piloto,” a intenção. O piloto depende do barco e o utiliza, mas também toma a responsabilidade pelo bem estar de ambos, barco e motor. Da mesma forma, a lei de kamma depende de cittaniyama e a utiliza e também toma a responsabilidade pelo bem estar da vida, incluindo ambos, o corpo e a mente.
Não existe tanta confusão sobre a relação entre a lei de kamma e cittaniyama, principalmente porque essas são coisas pelas quais a pessoa comum não tem um grande interesse. O tema que cria mais confusão é a relação entre a lei de kamma e a Preferência Social e essa confusão gera ambigüidade com relação à natureza do bom e do mau.
Com freqüência ouvimos as pessoas dizerem que o bom e o mau são invenções humanas ou sociais. Uma ação numa sociedade, época ou lugar, pode ser considerada boa, mas em outra época e lugar será considerada má. Algumas ações são aceitáveis numa sociedade, mas não em outra. Por exemplo, algumas religiões ensinam que matar animais para alimento não é mau, enquanto que outras ensinam que causar dano aos seres de qualquer tipo nunca é bom. Algumas sociedades crêem que uma criança deve mostrar respeito aos mais velhos e que discutir com eles são maus modos, enquanto que outras crêem que o respeito não depende de idade e que as pessoas devem ter o direito de expressar as suas opiniões.
Dizer que o bom e o mau são questões da preferência humana e decreto social é verdade até certo ponto. Mesmo assim, o bom e o mau da Preferência Social não afetam ou desordenam a mecânica da lei de kamma sob nenhum aspecto e não devem ser confundidos com ela. “Bom” e “mau” como convenção social devem ser reconhecidos como Preferência Social. Quanto a “bom” e “mau” ou de forma mais correta, kusala e akusala, as qualidades da lei de kamma, estas devem ser reconhecidas como atributos da lei de kamma. Muito embora ambas estejam relacionadas, elas são de fato separadas e possuem distinções bastante claras.
Aquilo que é ao mesmo tempo a relação e o ponto de diferença entre essa lei da natureza e a Preferência Social é a intenção ou volição. Quanto à forma como isso ocorre, consideremos o seguinte.
Em relação à lei de kamma, as convenções da sociedade podem ser divididas em dois tipos:
1. Aquelas que não possuem relação direta com kusala e akusala.
2. Aquelas que estão relacionadas com kusala and akusala.
Aquelas convenções que não possuem relação direta com kusala e akusala são os valores aceitos ou pactos que são estabelecidos pela sociedade para uma função social específica, tal como permitir que as pessoas vivam juntas em harmonia. Elas podem de fato ser instrumentos para criar a harmonia social ou não. Elas podem de fato ser úteis para a sociedade ou podem na verdade causar dano. Tudo depende de se essas convenções foram ou não estabelecidas com suficiente compreensão e sabedoria e se a autoridade que as estabeleceu está agindo ou não com a intenção pura.
Esses tipos de convenções podem assumir várias formas, tais como tradições, costumes ou leis. “Bom” e “mau” nesse contexto são estritamente assuntos de Preferência Social. Elas podem mudar de vários modos, mas as suas mudanças não são função da lei de kamma e não devem ser confundidas com ela. Se uma pessoa desobedecer essas convenções e for punida pela sociedade, isso também é um assunto da Preferência Social, não da lei de kamma.[8]
Consideremos agora uma área em que essas preferências sociais podem coincidir com a lei de kamma, tal como quando um membro de uma sociedade se recusa a obedecer uma das suas convenções ou a transgride.[9] Ao agir assim, aquela pessoa estará agindo de acordo com certa intenção. Essa intenção é o primeiro passo e portanto diz respeito à lei de kamma. Em muitas sociedades haverá o esforço de identificar essa intenção para averiguar a qualidade da ação. Isso novamente é um tema da Preferência Social, indicando que aquela sociedade em particular sabe como empregar a lei de kamma. Essa consideração da intenção pela sociedade não é no entanto, em si mesma, função da lei de kamma. (Isto é, não é uma conclusão conhecida de antemão pois nem sempre o comportamento ilegal é punido. No entanto, quer as ações sejam punidas ou não elas são kamma no sentido de que são ações volitivas e irão produzir resultados).
Quanto ao papel particular da lei de kamma, não obstante a sociedade investigar a intenção ou não, ou mesmo se a sociedade estiver ciente da transgressão ou não, a lei de kamma funciona imediatamente após a ocorrência da ação e o processo de fruição já terá sido colocado em movimento.
Colocando de forma simples, o fator decisivo na lei de kamma é se a intenção é kusala ou akusala. Na maioria dos casos, desobedecer alguma Preferência Social pode ser dito que não constitui uma transgressão intencional somente quando a sociedade concorda em abandonar ou modificar aquela convenção. Só então, não haverá transgressão do pacto público.
Isso pode ser ilustrado com um exemplo simples. Suponha que duas pessoas decidam viver juntas. Para que a vida delas, juntas, seja a mais tranqüila e conveniente possível, elas concordam em estabelecer um conjunto de regras: embora trabalhem em lugares diferentes e regressem do trabalho em horários diferentes, elas decidem jantar juntas. Como seria impraticável que uma esperasse pela outra indefinidamente, elas concordam que cada uma não deveria comer antes das sete horas da noite. Dessas duas pessoas, uma gosta de gatos e não gosta de cães, enquanto que a outra gosta de cães e não gosta de gatos. Para o bem estar comum, elas concordam em não ter animais de estimação na casa.
Tendo concordado com essas regras, se alguma dessas duas pessoas agir em desacordo com elas, haverá o caso de uma transgressão intencional e o kamma surgirá, bom ou mal, de acordo com a intenção que a tenha instigado, muito embora jantar antes das sete horas da noite ou ter animais de estimação na casa não seja em si mesmo bom ou mal. Um outro casal poderá até estabelecer regras que sejam diretamente opostas a essas. E na eventualidade de alguma dessas pessoas considerar que as regras em vigor não mais tragam benefício, elas devem discutir o assunto juntas e chegar a um novo acordo. Só então, uma não conformidade intencional por parte de uma delas estaria livre de resultado kammico. Essa é a distinção entre “bom” e “mau” e “certo” e “errado” como parte das convenções sociais em transformação, ao contrário das propriedades imutáveis da lei de kamma - kusala e akusala.
As convenções sociais que estão relacionadas com kusala e akusala da lei de kamma são aquelas convenções que ou são hábeis, ou inábeis. A sociedade pode ou não estabelecer essas regras com um claro entendimento de kusala e akusala, mas o processo da lei de kamma segue adiante o seu curso natural sem levar isso em consideração. Isso não muda de acordo com as convenções sociais.
Por exemplo, uma sociedade pode considerar aceitável tomar substâncias embriagantes e drogas que viciam. As emoções extremas podem ser encorajadas e os cidadãos podem ser estimulados a competir de forma agressiva para estimular o crescimento econômico. Ou a crença geral pode ser que, matar as pessoas de outras sociedades, ou, numa escala menor, matar animais, não é passível de crítica.
Esses são exemplos nos quais o bom e mau da Preferência Social e kusala e akusala divergem entre si: condições inábeis são preferidas do ponto de vista social e o “bom” sob a perspectiva social é “mau” sob o ponto de vista da lei de kamma. Visto sob a perspectiva social, essas convenções ou atitudes podem causar ambos, resultados positivos e negativos. Por exemplo, embora a vida estressada e marcada pela alta competitividade possa provocar uma alta taxa de suicídios, uma incidência extraordinariamente alta de problemas mentais e sociais, enfermidades cardíacas e assim por diante, uma sociedade com tal perfil poderá experimentar rápido progresso material. Portanto, os problemas sociais com freqüência podem ser rastreados até a lei de kamma, nos valores condenados e encorajados pela sociedade.
A Preferência Social e a lei de kamma são separadas e distintas. Os frutos de kamma surgem de acordo com a sua própria lei, independente de qualquer convenção social com as quais tenha diferenças, tal como mencionado acima. No entanto, como as convenções e a lei de kamma estão relacionadas, praticar ações corretas sob a perspectiva da lei de kamma, isto é, ações que são kusala, podem mesmo assim criar problemas no plano social. Por exemplo, um abstêmio que viva numa sociedade que favoreça as substâncias embriagantes irá receber os frutos de kamma ditados pela lei de kamma – ele não experimenta a perda da saúde e da claridade mental devido às substâncias embriagantes – mas no contexto da Preferência Social, em contraste com a lei de kamma, ele poderá ser ridicularizado e desprezado. E mesmo como parte da lei de kamma poderão surgir problemas do seu antagonismo intencional a essa Preferência Social, sob a forma de estresse mental, que poderá ser maior ou menor dependendo da sua sabedoria e habilidade em se desapegar das reações sociais.
Uma sociedade progressista com administradores sábios utiliza a experiência acumulada de prévias gerações ao estabelecer as convenções e leis da sociedade. Essas se tornam o bom e o mau da Preferência Social e de forma ideal elas deveriam estar correlacionadas com kusala e akusala de kammaniyama. A habilidade em estabelecer as convenções sociais em conformidade com a lei de kamma parece ser uma medida segura para determinar a verdadeira extensão do progresso ou civilização de uma sociedade.
Nesse contexto, se for necessário avaliar qualquer convenção como boa ou má, é melhor considerá-la sob dois aspectos. Primeiro, em termos da Preferência Social, ao determinar se ela traz ou não um resultado benéfico para a sociedade. Segundo, em termos da lei de kamma, determinando se é kusala, benéfica para o bem estar mental.
Algumas convenções, embora sejam mantidas pelas sociedades por longos períodos de tempo, na verdade não são úteis, mesmo sob o ponto de vista da Preferência Social, sem falar sob o ponto de vista da lei de kamma. Tais convenções devem ser abandonadas, o que pode exigir um ser excepcional, com o coração puro, para apontar o seu defeito.
No caso de uma convenção que é vista como benéfica para a sociedade e para o progresso humano, mas que não está em conformidade com kusala da lei de kamma, tal como aquela que acentua o progresso material ao custo da qualidade de vida, vale a pena considerar se as pessoas daquela sociedade não estão desencaminhadas e equivocadas pensando que aquilo que é danoso seja benéfico. Um costume verdadeiramente benéfico deve estar de acordo com ambos, a Preferência Social e a lei de kamma. Em outras palavras, tem que ser benéfico para ambos, o indivíduo e a sociedade como um todo e benéfico em ambos os níveis, material e psíquico.
Com relação a isso podemos aprender com a situação da sociedade no presente. Os seres humanos, acreditando que a abundância de posses materiais seja o caminho para a verdadeira felicidade, aplicam a sua energia no desenvolvimento material. Os efeitos danosos de muitos dos nossos esforços em obter o progresso material apenas agora estão se tornando evidentes. Apesar da aparente prosperidade da sociedade, nós temos criado muitos perigos físicos novos e os problemas sociais e ambientais nos ameaçam numa escala global. Da mesma forma como o progresso material não deve destruir o corpo físico, o progresso social não deve destruir a clareza mental.
O Buda ofereceu um conjunto de reflexões sobre kusala e akusala para avaliarmos no âmbito prático a natureza do bom e do mau, encorajando a reflexão sobre ambos o bom e o mau interior (consciência) e os ensinamentos dos sábios (sendo que ambos são o fundamento da consciência e vergonha). [10] Em terceiro lugar, ele recomendava a reflexão sobre os frutos das ações, tanto sob a perspectiva individual como social. Como a natureza de kusala e akusala pode nem sempre ser evidente, o Buda nos aconselha a tomar como base os ensinamentos religiosos e éticos, e, se tais ensinamentos não forem claros o suficiente, a analisar o resultado das ações, mesmo que seja apenas sob a perspectiva social.
Para a maioria das pessoas, essas três bases para a reflexão ( isto é, sob o ponto de vista do indivíduo, da sociedade e dos ensinamentos dos sábios) podem ser usadas para avaliar o comportamento em inúmeras situações distintas, assegurando que as suas ações sejam tão circunspectas quanto possível.
Portanto, os critérios para avaliar o bom e o mau são: no contexto de se uma ação é kamma ou não, tomar a intenção como fator decisivo; e no contexto de se aquele kamma é bom ou ruim, considerar o assunto de acordo com os seguintes princípios:
1. Investigar a origem das ações: se as intenções das quais elas surgiram provêm de uma das raízes hábeis de não-cobiça, não-aversão ou não-delusão ou de uma das raízes inábeis da cobiça, aversão ou delusão.
2. Investigar os efeitos na psique ou bem estar mental das ações: se elas fazem com que a mente fique límpida, calma e saudável; se elas promovem ou inibem a qualidade mental; se elas encorajam o surgimento de condições hábeis e a redução de condições inábeis ou vice-versa.
1. Considerar se as ações são passíveis de censura pela própria pessoa ou não (consciência).
2. Considerar a qualidade das ações sob a perspectiva dos ensinamentos dos sábios.
3. Considerar os resultados das ações:
a. Em relação a si mesmo
b. Em relação aos outros
É possível classificar esses padrões de forma diferente, mas antes devemos esclarecer dois pontos. Primeiro, analisar as ações como hábeis ou inábeis em relação às suas raízes ou em si mesmas é em essência a mesma coisa. Segundo, com relação à aprovação ou censura pelos sábios, podemos dizer que tais opiniões sábias estão em geral preservadas nas religiões, convenções e leis. Embora essas convenções nem sempre sejam sábias, e sendo assim, uma prática que conflite com elas não será necessariamente inábil, no entanto, pode ser dito que tais casos são na verdade a exceção e não a regra.
Estamos agora prontos para resumir os nossos padrões de bom e mau, ou kamma bom e ruim, ambos estritamente de acordo com a lei de kamma e também em relação à Preferência Social, respectivamente sob um ponto de vista moral intrínseco e de acordo com a prescrição social.
1. Em relação ao benefício direto ou dano: essas ações são em si mesmas benéficas? Elas contribuem para a qualidade de vida? Elas fazem com que as condições kusala e akusala aumentem ou diminuam?
2. Em relação às conseqüências benéficas ou danosas: os efeitos dessas ações são danosos ou benéficos para si mesmo?
3. Em relação ao benefício ou dano para a sociedade: essas ações prejudicam ou auxiliam os outros?
4. Em relação à consciência, a capacidade humana reflexiva natural: essas ações serão passíveis de censura pela própria pessoa ou não?
5. Em relação aos padrões sociais: qual é a posição dessas ações em relação àquelas convenções religiosas, tradições, instituições sociais e leis que estão baseadas na reflexão com sabedoria (ao contrário daquelas que são meras crenças supersticiosas ou equivocadas)?
Antes de tratar da questão dos resultados de kamma no próximo capítulo, seria pertinente considerar alguns dos pontos descritos acima à luz do Cânone em Pali.
“O que são condições hábeis (kusala)? Elas são as três raízes da habilidade – não-cobiça, não-aversão e não-delusão; sensações, percepções, formações mentais e consciência, que contêm essas raízes da habilidade; kamma corporal, kamma verbal e kamma mental, que possuem essas raízes como base: essas são as condições hábeis.
“O que são condições inábeis (akusala) Elas são as três raízes da inabilidade – cobiça, aversão e delusão – e todas as contaminações que delas surgem; sensações, percepções, formações mentais e consciência, que contêm essas raízes da inabilidade; kamma corporal, kamma verbal e kamma mental, que possuem essas raízes como base: essas são as condições inábeis.”[Dhs 181]
* * *
“Existem dois tipos de perigo, o perigo visível e o perigo velado.
“Quais são os ‘perigos visíveis’? Essas são coisas tais como leões, tigres, panteras, ursos, leopardos, lobos…bandidos…enfermidades do olho, enfermidades do ouvido, enfermidades do nariz...frio, calor, fome, sede, defecar, urinar, contato com moscas varejeiras, mosquitos, vento, sol e animais rastejantes: esses são chamados os ‘perigos visíveis.’
“Quais são os ‘perigos velados’? Eles são as ações ruins corporais, ações ruins verbais, ações ruins mentais; os obstáculos do desejo sensual, má vontade, preguiça e torpor, inquietação e dúvida; cobiça, aversão e delusão; raiva, vingança, malícia, arrogância, inveja, avareza, fraude, ostentação, teimosia, disputas, orgulho, desprezo, ilusão, negligência; as contaminações, os maus hábitos; confusão; luxúria; agitação; todos os pensamentos que sejam inábeis: esses são os ‘perigos velados.’
“Eles são chamados de ‘perigos’ por qual razão? Eles são chamados de perigos porque eles subjugam, causam o declínio, nesse aspecto eles são um refúgio.
“Porque eles são chamados de perigos que subjugam? Porque esses perigos suprimem, constrangem, sujeitam, oprimem, molestam e esmagam...
“Porque eles são chamados de perigos que causam o declínio? Porque esses perigos produzem o declínio das condições hábeis...
“Porque eles são chamados de perigos que são um refúgio? Porque as condições baixas, inábeis nascem dessas coisas e tomam refúgio nelas, tal como um animal que vive num buraco toma refúgio no buraco, um animal aquático toma refúgio na água ou um animal que vive nas árvores toma refúgio nas árvores...”[Nd 112, 360, 467; Nd 2199]
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“Quando a cobiça, aversão e delusão surgem na mente, elas destroem aquele que pratica o mal, tal como a flor do bambu sinaliza a ruína do bambu...” [SN.I.70,98]
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“Veja, Majestade. Essas três coisas surgem no mundo não para o bem estar ou benefício, mas para a desgraça, para o desconforto. Quais são essas três? Elas são a cobiça, a aversão e a delusão…” [SN.I.98]
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“Bhikkhus, existem essas três raízes da inabilidade. Quais são as três? Elas são a cobiça, a aversão e a delusão...
“A cobiça em si é inábil; qualquer kamma criado por conta da cobiça, através da ação, linguagem ou pensamento também é inábil. Alguém sob o poder da cobiça, mergulhado na cobiça, cuja mente esteja distorcida pela cobiça, causa problemas aos demais ao golpeá-los, aprisioná-los, subjugá-los, condená-los e baní-los, pensando, ‘Eu sou poderoso, eu sou forte.’ Isso também é inábil. Esses muitos tipos de condições grosseiras, inábeis, surgem da cobiça, possuem a cobiça como causa, possuem a cobiça como origem, possuem a cobiça como condição, perseguem aquele que faz o mal.
“A raiva em si é inábil; qualquer kamma criado por conta da raiva, através da ação, linguagem ou pensamento também é inábil. Alguém sob o poder da raiva... causa problemas aos demais...Isso também é inábil. Esses muitos tipos de condições grosseiras, inábeis...perseguem aquele que faz o mal.
“A delusão em si é inábil; qualquer kamma criado por conta da delusão, através da ação, linguagem ou pensamento também é inábil. Alguém sob o poder da delusão... causa problemas aos demais...Isso também é inábil. Esses muitos tipos de condições grosseiras, inábeis...perseguem aquele que faz o mal..
“Alguém que esteja assim aprisionado, cuja mente está assim infectada com as condições grosseiras, inábeis que nascem da cobiça, raiva e delusão, experimenta o sofrimento, estresse, agitação e ansiedade neste momento presente. Na morte, na dissolução do corpo, ele poderá esperar um destino infeliz, exatamente como uma árvore que estando completamente envolta por uma trepadeira será arruinada, destruída, irá declinar e se desintegrar ...
“Bhikkhus! Existem três raízes da habilidade. Quais são as três? Elas são a raiz da não-cobiça, a raiz da não-raiva, a raiz da não-delusão…” [AN.I.201]
* * *
“Bhikkhus! Existem três causas-raiz de kamma, Quais são essas três? Elas
são cobiça ... raiva... delusão...
“Qualquer kamma realizado como resultado da cobiça…raiva…delusão, nascido da cobiça…raiva…delusão, que tenha a cobiça…raiva…delusão como sua raiz e sua causa, esse kamma é inábil, esse kamma é prejudicial, esse kamma tem o sofrimento como resultado, esse kamma produz a criação de mais kamma, não a cessação de kamma.
“Bhikkhus! Existem três causas-raiz de kamma. Quais são as três? Elas são a não-cobiça…não-raiva…não-delusão…
“Qualquer kamma realizado como resultado da não-cobiça…não-raiva…não-delusão, nascido da não-cobiça…não-raiva…não-delusão, que tenha a não-cobiça…não-raiva…não-delusão como sua raiz e sua causa, esse kamma é hábil, esse kamma não é prejudicial, esse kamma tem a felicidade como resultado, esse kamma produz a cessação de kamma, não a criação de mais kamma...”[AN.I.263]
* * *
“Claro que vocês estão confusos Kalamas. Claro que vocês têm dúvidas. Quando existem motivos para a dúvida, a incerteza tem origem. Dessa forma, Kalamas, nesse caso não se deixem levar por relatos, por lendas, pelas tradições, pelas escrituras, pela conjectura lógica, pela inferência, por analogia, pela concordância obtida através de ponderações, por probabilidades ou pelo pensamento, ‘Este contemplativo é o nosso mestre.’ Quando vocês sabem por vocês mesmos que, ‘Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são passíveis de crítica pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento’ - então vocês devem abandoná-las.
“O que vocês pensam Kalamas? Quando a cobiça surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa que está tomada pela cobiça, sua mente obcecada com a cobiça, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor”
“E o que vocês pensam, Kalamas? Quando a aversão surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa tomada pela aversão, sua mente obcecada pela aversão, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente, e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor.”
“E o que vocês pensam, Kalamas? Quando a delusão surge em uma pessoa, ela surge para o bem ou para o mal?”
“Para o mal, senhor.”
“E essa pessoa tomada pela delusão, sua mente obcecada pela delusão, mata seres vivos, toma o que não lhe é dado, busca a mulher do próximo, mente, e induz outros a fazerem o mesmo, tudo o que resulta é dano e sofrimento por um longo tempo.”
“Sim, senhor.”
“Então Kalamas o que vocês pensam. Essa qualidades são hábeis ou inábeis?”
“Inábeis, senhor.”
“Culpáveis ou isentas de culpa?”
“Culpáveis, senhor.”
“Criticadas pelos sábios ou elogiadas pelos sábios?”
“Criticadas pelos sábios, senhor.”
“Quando postas em prática elas conduzem ao mal e ao sofrimento ou não?”
“Quando postas em prática elas conduzem ao mal e ao sofrimento. Assim é como as vemos.”
“Então como eu disse, Kalamas: ‘Não se deixem levar por relatos, por lendas, pelas tradições, pelas escrituras, pela conjectura lógica, pela inferência, por analogia, pela concordância obtida através de ponderações, por probabilidades ou pelo pensamento, “Este contemplativo é o nosso mestre.” Quando vocês sabem por vocês mesmos que, “Essas qualidades são inábeis; essas qualidades são culpáveis; essas qualidades são criticáveis pelos sábios; essas qualidades quando postas em prática conduzem ao mal e ao sofrimento” - então vocês devem abandoná-las.’ Assim foi dito.”[AN.I.189] (AN.III.65)
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O trecho a seguir foi extraído de uma conversa entre o Rei Pasenadi de Kosala e o Venerável Ananda. Trata-se de uma série de perguntas e respostas relacionadas com a natureza do bom e do mau, onde pode ser observado que o Venerável Ananda emprega todos os padrões mencionados acima.
Rei: Venerável Senhor, quando pessoas tolas, não inteligentes, falam elogiando ou criticando os outros sem considerar cuidadosamente, eu não tomo as palavras delas com seriedade. Quanto aos expertos, os sábios e astutos, que consideram com cuidado antes de elogiar ou criticar, eu dou importância às palavras deles. Venerável Ananda, que tipos de ações corporais, ações verbais e ações mentais, depois de ponderadas, seriam censuradas pelos sábios contemplativos e brâmanes?
Ananda: São aquelas ações com o corpo... linguagem …mente que são inábeis, Majestade.
Rei: O que são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que são inábeis?
Ananda: Elas são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que são prejudiciais.
Rei: O que são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que são prejudiciais?
Ananda: Elas são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que são opressivas.
Rei: O que são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que são opressivas?
Ananda: Elas são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que resultam em sofrimento.
King: O que são aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que resultam em sofrimento?
Ananda: Aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que conduzem ao próprio tormento ou ao tormento dos outros, ou ao tormento de ambos; que fazem com que as condições inábeis aumentem e as condições hábeis diminuam; esses tipos de ações com o corpo...linguagem...mente são censuradas pelos sábios contemplativos e brâmanes.
Em seguida o Venerável Ananda respondeu as perguntas do Rei sobre as condições hábeis da mesma forma, resumindo da seguinte forma:
“Aquelas ações com o corpo…linguagem…mente que resultam em felicidade, isto é, que não conduzem ao próprio tormento ou ao tormento dos outros, ou ao tormento de ambos; que fazem com que as condições inábeis diminuam e as condições hábeis aumentem; Sua Majestade, apenas esses tipos de ações com o corpo...linguagem...mente não são censuradas pelos sábios contemplativos e brâmanes.” [M.II.114] (MN88)
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“Alguém sob o poder da cobiça e desejo…ódio e ressentimento…delusão…com a mente assim distorcida…não sabe o que é proveitoso para si mesmo…proveitoso para os outros…proveitoso para ambos. Ao abandonar o desejo…aversão…delusão, ele sabe com clareza o que é proveitoso para si mesmo…proveitoso para os outros…proveitoso para ambos.” [AN.I.216]
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“Kamma ruim é como o leite recém ordenhado, demora para azedar. O kamma ruim acompanha e queima aquele que faz o mal como o carvão em brasa enterrado sob as cinzas.” [Dh 71]
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“Aquele que anteriormente realizou kamma ruim, mas que se regenera e cria bom kamma, ilumina o mundo tal como a lua surgindo detrás de uma nuvem.” [Dh172]
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“Realizar kamma bom é como ter um bom amigo ao seu lado.” [SN.I.37]
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“Ananda! Com relação às ações ruins, através do corpo, linguagem e mente, que são desencorajadas por mim, as seguintes conseqüências podem ser esperadas: a pessoa é passível de ser censurada por ela mesma; os sábios, depois de ponderar cuidadosamente, decidem que ela deve ser censurada; uma má reputação se espalha; a pessoa morre confusa; e com a morte, na dissolução do corpo, ela irá para os estados miseráveis, para os reinos inferiores, o inferno…
“Ananda! Com relação às ações boas, através do corpo, linguagem e mente, que são recomendadas por mim, as seguintes conseqüências podem ser esperadas: a pessoa não é passível de ser censurada por ela mesma; os sábios, depois de ponderar cuidadosamente, decidem que ela deve ser elogiada; uma boa reputação se espalha; a pessoa morre não-confusa; e com a morte, na dissolução do corpo, ela irá para para os reinos de prazer…
“Bhikkhus, abandonem as qualidades inábeis. As qualidades inábeis podem ser abandonadas. Se fosse impossível abandonar as qualidade inábeis, eu não lhes diria para fazer isso…mas como as qualidades inábeis podem ser abandonadas, eu assim lhes digo…Além disso, se o abandono dessas qualidades inábeis não conduzisse ao bem estar, mas ao sofrimento, eu não diria isto, ‘Bhikkhus, abandonem as qualidades inábeis,’ mas como o abandono dessas qualidades inábeis conduz ao benefício e à felicidade, eu assim lhes digo, ‘Bhikkhus, abandonem as qualidades inábeis.’
“Bhikkhus, cultivem as qualidades hábeis. As qualidades hábeis podem ser cultivadas. Se fosse impossível cultivar as qualidade hábeis, eu não lhes diria para fazer isso…mas como as qualidades hábeis podem ser cultivadas, eu assim lhes digo…Além disso, se o cultivo dessas qualidades hábeis não conduzisse ao bem estar, mas ao sofrimento, eu não diria isto, ‘Bhikkhus, cultivem as qualidades hábeis,’ mas como o cultivo dessas qualidades hábeis conduz ao benefício e à felicidade, eu assim lhes digo, ‘Bhikkhus, cultivem as qualidades hábeis.’” [AN.I.58]
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“Bhikkhus, existem aquelas coisas que devem ser abandonadas através do corpo, não através da linguagem; existem aquelas coisas que devem ser abandonadas através da linguagem, não através do corpo; existem aquelas coisas que devem ser abandonadas nem através do corpo, nem através da linguagem, mas que precisam ser vistas de forma clara, com sabedoria e depois abandonadas.
“Quais são aquelas coisas que devem ser abandonadas através do corpo, não através da linguagem? Nesse caso, um bhikkhu neste Dhamma-Vinaya incorre em transgressões através do corpo. Os seus sábios companheiros no Dhamma, tendo considerado o assunto, lhe dizem: ‘Venerável amigo, você incorreu nestas transgressões. Seria bom se você abandonasse esse comportamento incorreto corporal e cultivasse o bom comportamento corporal.’ Tendo sido assim instruído por esses sábios companheiros, ele abandona essas ações incorretas corporais e cultiva as boas. Essa é uma condição que deve ser abandonada através do corpo, não da linguagem.
“Quais são aquelas coisas que devem ser abandonadas através da linguagem, não através do corpo? Nesse caso, um bhikkhu neste Dhamma-Vinaya incorre em transgressões através da linguagem. Os seus sábios companheiros no Dhamma, tendo considerado o assunto, lhe dizem: ‘Venerável amigo, você incorreu nestas transgressões. Seria bom se você abandonasse essa linguagem incorreta e cultivasse a linguagem correta.’ Tendo sido assim instruído por esses sábios companheiros, ele abandona essa linguagem incorreta e cultiva a linguagem correta. Essa é uma condição que deve ser abandonada através da linguagem, não do corpo.
“Quais são aquelas coisas que devem ser abandonadas nem através do corpo, nem através da linguagem, mas que precisam ser vistas de forma clara, com sabedoria, e depois abandonadas? Elas são a cobiça…ódio…delusão…raiva…vingança… malícia…arrogância…avareza. Essas coisas devem ser abandonadas nem através do corpo, nem através da linguagem, mas que precisam ser vistas de forma clara, com sabedoria e depois abandonadas.”[AN.V.39]
Início >> 1. Compreendendo a Lei de Kamma >> 3. Os Frutos de Kamma
Notas:
[7] Essas cinco primeiras qualidades são chamadas de Cinco Obstáculos (nivarana), assim chamados porque são obstáculos ao desenvolvimento da meditação ou da mente límpida [Retorna]
[8] Exemplos de tais convenções são os códigos sociais de vestuário: antes de entrar num templo Budista na Tailândia, por exemplo, é apropriado remover os sapatos e o chapéu, enquanto que para entrar numa igreja Cristã com freqüência é necessário usar ambos. [Retorna]
[9] Tal como recusar-se a tirar os sapatos num templo Budista ou de usar um chapéu numa igreja Cristã. [Retorna]
[10] Hiri-ottappa: “Consciência e preocupação”; “vergonha moral e temor moral”. Essas emoções gêmeas – “as guardiãs do mundo” – estão associadas com todas as ações hábeis. Hiri é uma consciência interna que nos refreia de cometer atos que colocariam em risco o respeito por nós mesmos; ottappa é um temor saudável de cometer atos inábeis que possam resultar em dano para nós mesmos ou para os outros. [Retorna]
Revisado: 7 Setembro 2002
A versão original deste texto está em http://www.acessoaoinsight.net/arquivo_textos_theravada/kamma_2.htm