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6. A Natureza das Contaminações

 

 


Para o ser não iluminado, as experiências e situações são normalmente interpretadas e avaliadas com base nas seguintes propensões ou influências:

 

1. A preocupação em relação aos desejos pelos cinco tipos de objetos dos sentidos, (kama – visões, sons, aromas, sabores e sensações corporais).

 

2. A preocupação em relação à existência e preservação do eu, suas identidades e  situações desejadas, (bhava).

 

3. Idéias, crenças e modos de pensar, (ditthi).

 

4. Delusão ou ignorância, (avijja): não compreender de modo claro o significado das coisas como elas na verdade são, que conduz à percepção da existência de um eu.

 

A terceira e quarta condições, em particular, estão sem dúvida relacionadas: sem a sabedoria ou entendimento, o comportamento será guiado por idéias e crenças habituais e equivocadas. Essas duas condições abrangem áreas de influência bastante amplas, incluindo ideais e práticas políticas, sociais e religiosas baseadas no temperamento, hábito, treinamento e condicionamento social. Elas estão relacionadas com as duas primeiras propensões e exercem influência sobre estas, dessa maneira controlando todos os sentimentos pessoais e comportamento. Elas condicionam tudo, de gostos e desgostos até os meios e métodos escolhidos para satisfazer os desejos. A ignorância e as idéias estão ocultas profundamente na consciência, exercendo sua influência silenciosamente e de modo contínuo.

 

De acordo com a percepção comum, nós temos controle sobre as nossas ações e somos capazes de ir atrás dos nossos desejos de acordo com o nosso próprio livre arbítrio. Uma observação mais cuidadosa mostrará  que isso é uma ilusão. Se nos perguntássemos, “O que realmente queremos? Porque queremos essas coisas? Porque agimos da forma como agimos?” não encontraremos nada que seja realmente nosso. Encontraremos ao invés disso, padrões de comportamento adquiridos, aprendidos na escola, através de uma educação religiosa, do condicionamento social e outros similares. As ações individuais são simplesmente escolhidas de dentro dos limites desses critérios e, embora possam ser feitas algumas adaptações, elas também estarão sob a direção de outras influências.

 

 

 

Quaisquer escolhas, ou decisões tomadas, são parte de um fluxo de condições, e essas são em si mesmas influenciadas por outros fatores. O que as pessoas sentem como sendo o seu eu é nada mais do que a soma total dessas influências ou propensões. Essas condições, além de não possuírem um eu que lhes pertença, são forças poderosas sobre as quais a maioria das pessoas possui pouco ou nenhum controle, de modo que existe realmente muito pouca chance para para uma verdadeira liberdade.

 

As quatro qualidades mencionadas acima são chamadas asava em Pali.[16] Traduzido literalmente, asava quer dizer ‘aquilo que inunda,’ porque elas ‘inundam’ a mente sempre que esta experimenta uma sensação, ou ‘aquilo que traz problemas ou que causa dor,’ porque essas coisas envenenam ou poluem a mente nós as chamaremos de ‘impurezas.’ Não importa o que seja experimentado, seja através de qualquer uma das portas dos sentidos ou concebido na própria mente, essas impurezas se insinuam e espalham a sua influência. Sensações ou pensamentos, ao invés de serem funções da mente pura, se tornam, ao invés disso, produtos das impurezas que por sua vez poluem os estados mentais subseqüentes e causam, como resultado, o sofrimento.

 

A primeira impureza é chamada kamasava, a segunda, bhavasava, a terceira ditthasava e a quarta avijjasava. Essas impurezas estão por detrás do comportamento de todos os seres não iluminados. Elas criam a delusão da idéia de um eu que é a ignorância no seu nível mais básico. Nesse sentido elas controlam e dirigem o pensamento e o comportamento. Esse é o primeiro nível do ciclo da Origem Dependente: a ignorância é condicionada pelas impurezas. A partir disso o ciclo continua – com a ignorância como fator determinante, os impulsos volitivos surgem como conseqüência.

 

Enquanto estão sob a influência da delusão, a maioria das pessoas acredita que elas mesmas estão realizando as ações, a ironia é que elas não são de forma alguma senhoras de si mesmas – o comportamento delas é totalmente controlado por intenções que carecem de uma consciência reflexiva. Em essência, a ignorância é a cegueira em relação às Três Características tal como estas são mostradas no princípio da Origem Dependente, em especial a terceira, não-eu, (anatta). De modo mais específico, a ignorância é não compreender de forma clara que as condições que em geral são consideradas como sendo um indivíduo ou ‘ego’, ou ‘eu’, ou ‘você,’ são simplesmente um fluxo de fenômenos físicos e mentais que surgem e cessam de modo constante, relacionados e conectados pelo processo de causa e efeito. Esse fluxo se encontra num estado de mudança constante. Podemos dizer que uma ‘pessoa’ é simplesmente o resultado geral das sensações, pensamentos, desejos, hábitos, propensões, idéias, conhecimentos, crenças e assim por diante, em um certo momento em particular, que ou são herdados de fatores sociais e ambientais, tal como através do aprendizado, ou formados a partir de fatores internos pessoais, todos mudando constantemente. Não compreendendo isso com clareza, existe o apego a uma ou outra dessas condições como sendo o eu ou pertencendo a um eu. Apegar-se às condições dessa forma é na verdade ser enganado e controlado por elas.

 

Isso é a “ignorância como um fator determinante para os impulsos volitivos” num nível mais profundo do que aquele mencionado anteriormente. Quanto aos demais elos, a partir deste ponto até vedana, sensação, não deveria haver dificuldade em compreendê-los pelas explicações que já foram dadas. Assim, passaremos desse ponto para uma outra seção importante, “desejo, (tanha), como fator determinante para o apego, (upadana),” mais uma das seções que lidam com kilesa, ou contaminações.

 

Os três tipos de desejo que já foram mencionados são todos expressão de um só desejo e são todos experimentados com freqüência na vida diária, mas eles apenas podem ser vistos quando os mecanismos da mente são analisados com cuidado. Na raiz de toda ignorância se encontra a ignorância das coisas como um processo natural de causas e efeitos inter-relacionados que dão origem à percepção de um eu. Isso leva a um desejo muito importante e fundamental, o desejo de ser/existir, o desejo de sobreviver, de proteger e preservar a ilusão de um eu. Desejar ser está relacionado com desejar ter, o desejo não é de simplesmente existir, mas de existir para consumir aqueles objetos que irão produzir sensações prazerosas. Portanto, pode ser dito que o desejo pela existência depende do desejo de ter e o desejo de ter intensifica o desejo de existir.

 

À medida que o desejo se intensifica, várias situações podem surgir: se o objeto desejado não for obtido no tempo desejado, bhava, ou estado de existência, naquele momento se torna intolerável. A vida parecerá difícil e isso levará ao desejo de aniquilar a situação não desejada. Ao mesmo tempo, o desejo de adquirir novamente surgirá baseado no temor de não ser mais capaz de experimentar sensações prazerosas, e a partir disso mais uma vez surgirá o desejo de ser. Uma segunda possibilidade pode ser, não obter de forma nenhuma o objeto do desejo; uma terceira, obtê-lo, mas em quantidade insuficiente; enquanto que uma quarta pode ser, obtê-lo, mas depois desejar outra coisa. O processo pode assumir várias formas, mas o padrão básico é aquele de um desejo sempre crescente.

 

Quando os mecanismos da mente são examinados em detalhe, os seres humanos parecem estar enredados numa busca constante de um estado mais satisfatório do que aquele que eles têm. Os seres não iluminados estão continuamente sendo repelidos do momento presente – cada momento no presente é um estado de estresse, uma situação insuportável. O desejo de dar fim a essa situação, de libertar o eu do presente e encontrar um estado mais satisfatório, surge constantemente. Desejar obter, desejar ser e desejar não ser estão ocorrendo continuamente na vida diária dos seres não iluminados, (num nível que poucos têm consciência). A vida pessoal, assim, se torna uma luta constante para escapar do estado presente de ser para buscar alguma realização futura.

 

Rastreando o processo, descobrimos que esses desejos se originam da ignorância fundamental em relação às coisas como elas na verdade são – em resumo, ignorância do princípio da condicionalidade e da Origem Dependente. Essa ignorância dá origem ao equívoco básico da existência de uma essência, de uma forma ou de outra: quer seja vendo as coisas como entidades separadas, fixas e permanentes, (sassataditthi), ou vendo as coisas como passíveis de completa e total aniquilação, (ucchedaditthi). Todos os seres não iluminados têm esses dois entendimentos básicos na raiz da sua consciência e eles dão origem aos três tipos de desejo. O desejo de existir, (bhavatanha), provém da  percepção distorcida das coisas como sendo entidades separadas e duradouras, (e  portanto, desejáveis e cuja obtenção vale a pena). Como alternativa, existe o equívoco de que essas entidades separadas são passiveis de destruição, (e como tal não valendo a pena e das quais se deve escapar), que é a base para o desejo pela aniquilação, (vibhavatanha).

 

Esses dois entendimentos incorretos básicos preparam o caminho para o desejo. Se houvesse o entendimento do fluxo de eventos como um processo de causas e efeitos inter-relacionados, a percepção de uma entidade separada que perdura ou é destruída não teria fundamento. Todo desejo é  baseado evidentemente nesses dois entendimentos básicos.

 

O temor de perder as sensações prazerosas conduz à busca frenética por mais, e a percepção de uma entidade separada conduz à luta pela busca dessa entidade e por sua preservação. Num nível mais grosseiro, o desejo se expressa como o esforço pela busca de objetos do desejo, situações de vida que proporcionam tais objetos, tédio em relação aos objetos já obtidos, e o desespero ou inabilidade para suportar a ausência de novos objetos do desejo. O quadro que emerge é o de pessoas incapazes de estarem em paz consigo mesmas, ansiando continuamente por objetos do desejo e experimentando melancolia, solidão, alienação e angústia na luta para escapar do tédio insuportável. Quando os desejos são frustrados ocorre a decepção e o desespero.

 

Para a maioria das pessoas a felicidade e o sofrimento dependem totalmente de condições externas. O tempo livre se converte numa maldição, tanto individualmente como socialmente, um motivo para o tédio, miséria e solidão. Essa insatisfação básica aumenta

proporcionalmente à quantidade de desejo e à intensidade da busca pela gratificação sensual. Na verdade, olhando sob um ponto de vista mais introspectivo, descobrimos que a causa mais importante para os problemas sociais, tal como o vício em drogas e a delinqüência juvenil, é a inabilidade das pessoas de estar em paz com o momento presente e a conseqüente luta para escapar dele.

 

No caso de ter estudado e treinado em alguma tradição religiosa, e desenvolvido o entendimento correto, o desejo pode ser voltado para uma direção boa, visando alcançar objetivos mais a longo prazo, que envolvam a realização de boas ações e em última análise, o uso do desejo para abandonar o desejo.

 

A contaminação, (kilesa), que segue ao desejo é o apego, do qual existem quatro tipos:

 

1. Kamupadana: Apego à sensualidade. O desejo e esforço pela busca de objetos sensuais é seguido naturalmente pelo apego e aderência. Quando um objeto do desejo é obtido, a vontade de satisfazer ainda mais aquele desejo e o temor de perder o objeto dessa satisfação irão produzir o apego. No caso de uma decepção e perda, o apego tem por base a saudade. O apego se fortalece e gera mais ações em busca de satisfação porque os objetos do desejo não proporcionam satisfação duradoura. Como nada pode na verdade pertencer sempre ao eu, a mente está continuamente tentando reafirmar a noção de propriedade. Dessa forma os pensamentos dos seres não iluminados estão sempre apegados e obcecados com um ou outro objeto do desejo. É muito difícil que uma mente assim possa ser livre e desapegada.

 

2. Ditthupadana: Apego a idéias. O desejo de ser ou não ser produz propensões e apego a entendimentos, teorias ou sistemas filosóficos seguido de métodos, idéias, credos e ensinamentos. Quando existe apego a idéias estas passam a ser identificadas como parte do eu. Assim, quando confrontado com uma teoria ou idéia que contradiz a sua, o eu toma como uma ameaça pessoal. O eu precisa lutar para defender a sua posição, o que por sua vez dá origem a todo tipo de conflito. O processo tende a encurralar a mente num espaço limitado onde o funcionamento da sabedoria fica incapacitado. Esses pensamentos e idéias não proporcionam conhecimento, ao contrário, obstruem-no.

 

3. Silabbatupadana: Apego a preceitos e rituais. O desejo de ser e o temor da dissolução junto com o apego a idéias, por sua vez, conduzem à aderência cega a preceitos e rituais, tais como a magia e o ocultismo, que, acredita-se, irão concretizar o resultado desejado. O desejo de preservação do eu e de expressão do eu se manifestam externamente como o apego cego a modos de comportamento, tradições, métodos, crenças e instituições. Não existe entendimento do seu verdadeiro valor ou significado. Isso na verdade significa que a criação dessas metodologias e práticas conduzem à rigidez e à confusão, fazendo com que seja difícil efetivar qualquer melhoria pessoal ou derivar algum benefício verdadeiro delas.

 

Com relação ao tema de silabbatupadana, o falecido Venerável Buddhadasa, um dos pensadores Budistas contemporâneos mais influentes na Tailândia, deu uma explicação que pode ser de interesse no nosso caso:

 

Praticar a contenção moral, ou qualquer outra forma de prática do Dhamma, sem conhecer o seu objetivo ou refletir sobre o seu significado, mas simplesmente acreditando que tais práticas são auspiciosas e automaticamente produzem benefício, conduz à aderência rígida a preceitos de acordo com crenças, hábitos ou exemplos transmitidos pela geração anterior. Ao invés de penetrar as verdadeiras razões dessas práticas, as pessoas simplesmente se agarram a elas através de tradições. Esse tipo de apego, (upadana), é muito difícil de ser corrigido, ao contrário do segundo tipo de apego, apego a idéias, ou pensamentos e idéias equivocados. Este tipo de apego se fixa nas formas tangíveis da prática, nas suas aplicações externas. [17]

 

4. Attavadupadana: Apego à idéia do ego. O sentimento de um verdadeiro eu é a delusão no seu nível mais básico. Existem outros fatores que intensificam esse sentimento, tais como a linguagem e comunicações que produzem um apego a conceitos e a tendência de ver o fluxo de fenômenos causais como entidades fixas. Esse sentimento se desenvolve, se transformando em apego com o envolvimento do desejo. Implícito no desejo está o apego a um eu para obter o objeto do desejo. Ambos, o desejo de ser e o desejo de não ser dependem da percepção do eu. O temor da desintegração intensifica o desejo de ser e a luta pela sobrevivência e conseqüentemente a noção de um eu.

 

O desejo depende de um eu independente e poderoso de um tipo ou de outro. Algumas vezes parece que as coisas podem ser controladas e isso apóia a ilusão de um eu, mas na verdade esse controle é apenas parcial e temporário. O assim chamado eu é apenas um fator entre outros fatores incontáveis dentro do fluxo de causa e efeito. Está além do poder de qualquer pessoa controlar e dirigir de forma completa os objetos do apego. A sensação de propriedade ou controle sobre as coisas pode às vezes parecer bem fundamentada, mas ela nunca será totalmente ou completamente real, com o resultado de que o apego e a luta para reafirmar a noção do eu é intensificada.

 

O apego ao eu faz com que seja difícil organizar as coisas em conformidade com o verdadeiro processo de causa e efeito. Quando as ações não estão de acordo com a causa e efeito, e as condições não se comportam de acordo com os desejos, o eu fica frustrado e é confrontado com a impotência e a perda. O apego ao eu é o tipo de apego mais fundamental e é o fundamento para todos os outros tipos.

 

Ao experimentar sensações prazerosas, surge o apego. Isso leva a kamupadana, apego a objetos sensuais desejados. Ditthupadana, apego a idéias, está presente sob a forma do apego à idéia de que um objeto em particular é bom, que só com a sua obtenção haverá felicidade, e que só os métodos e ensinamentos que encorajam a busca e obtenção desse objeto estão corretos. Silabbatupadana se manifesta como o apego aos métodos e técnicas que são consideradas necessárias para a concretização do objetivo. Attavadupadana aparece como apego ao eu que irá possuir o objeto.

 

Em resumo, o apego causa confusão. O raciocínio dos seres não iluminados não flui sem percalços como deveria, de acordo com a razão, mas ao invés disso é  irracional, distorcido e enrolado. O sofrimento surge da aderência à idéia de um eu ou da idéia de propriedade. Se as coisas fossem realmente o eu ou pertencessem ao eu, então elas poderiam ser controladas de acordo com a vontade. Mas, ao invés disso, elas seguem de acordo com causas e condições. Não estando sob o poder do desejo, elas se tornam contrárias: o eu sofre oposição e é frustrado por elas. Sempre que o objeto do apego é atacado, o eu também é atacado. A medida do apego, que é a influência do ‘eu’ nas nossas ações, e a medida da perturbação experimentada por esse eu, são todas proporcionais. O resultado é, não somente sofrimento, mas uma vida que é vivida e operada sob o poder do desejo e do apego, ao invés de com sabedoria e inteligência.[18]

 

Do apego o processo continua até vir a ser, (bhava), nascimento, (jati), envelhecimento e morte, (jaramarana), e a partir disso tristeza, lamentação e assim por diante, tal como já foi explicado. Qualquer tentativa de encontrar uma saída dessa situação é condicionada pelos padrões habituais de pensamento e é ditada pelas propensões, preferências e idéias. Sem consciência do verdadeiro estado das coisas, o ciclo começa uma vez mais na ignorância e segue como antes.

 

Embora a ignorância possa ser vista como causa raiz e como criadora de todas as demais formas de contaminações em relação à sua expressão através do comportamento, o desejo é que desempenha o papel mais dominante. É por isso que nas Quatro Nobres Verdades é dito que o desejo é a causa do sofrimento.

 

Sob a influência cega e confusa da ignorância e do desejo, é mais provável que o kamma ruim exceda o kamma bom. Mas se a ignorância for temperada com as crenças hábeis e o pensamento correto, e o desejo for dirigido e treinado com propósitos nobres, é mais provável que o kamma bom exceda o kamma ruim conduzindo a resultados benéficos. Se o desejo for direcionado de modo sábio ele se torna uma ferramenta valiosa na destruição última da ignorância e das contaminações. O primeiro caminho é aquele do comportamento inábil, ruim e prejudicial, enquanto que o último é o caminho da habilidade, bondade e pureza. Tanto as pessoas boas como as ruins têm os seus próprios tipos de sofrimento, mas apenas o caminho da bondade é capaz de conduzir à cessação do sofrimento, à liberação e para a liberdade.

 

“Bhikkhuni, um bhikkhu neste Dhamma e Disciplina ouve que tal bhikkhu realizou a libertação da mente através da sabedoria, que está livre de impurezas. Ele então considera consigo mesmo, ‘Quando serei capaz de realizar a libertação da mente através da sabedoria?’ Mais tarde, aquele mesmo bhikkhu, contando com o desejo, abandona o desejo. Foi por conta disso que eu disse, ‘Este corpo nasce do desejo. Tendo o desejo como suporte, a pessoa deve abandonar o

desejo.’” [AN.II.145]

 

Se for dada a escolha entre diferentes tipos de desejo, o do tipo bom é o incentivo preferível para a ação. No entanto, a transcendência de ambos os desejos, bom e ruim, o caminho da sabedoria, é o caminho ideal para a purificação, liberdade e perfeita felicidade.

 

 

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Notas:

 

16. Asava: as três impurezas - kamasava, bhavasava, avijjasava – aparecem no D.II.81; SN.IV.256; etc. Quatro impurezas - kamasava, bhavasava, ditthasava e avijjasava – aparecem no Abhidhamma, veja Vbh.373. No M.A.I.56 é dito que ditthasava, a impureza das idéias, pode ser incluída como parte de bhavasava, a impureza de vir a ser, porque o desejo de ser e o apego aos estados de jhana estão ligados ou com as idéias de eternalismo, ou com as idéias de aniquilação. [Retorna]

 

17. Phra Ariyanandamuni, Luk Phra Buddhasasana (Suvijahn, 1956), pag. 60. [Retorna]

 

18. As quatro bases do apego aparecem no DN.III.230; Vbh.375 e outros. Attavadupadana, apego (à noção) ao eu, é em essência o apego a um ou outro dos cinco khandhas, tal como dito no Tipitaka, “O ser não iluminado percebe a forma como sendo o eu, ou o eu como possuído de forma material, ou a forma material como estando no eu, ou o eu como estando na forma material. Ele percebe as sensações... percepções... formações mentais... consciência como sendo o eu, ou o eu como possuído de consciência, ou a consciência como estando no eu, ou o eu como estando na consciência.” [Retorna]


Revisado: 25 Janeiro 2003