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A Origem Dependente na sociedade>> 9. Rompendo o ciclo
Compreender
o princípio da Origem Dependente, diz-se, é ter o Entendimento Correto (sammaditthi). Esse Entendimento Correto
é um tipo de entendimento equilibrado que não tende para os extremos. Portanto,
o princípio da Origem Dependente é uma lei que ensina a verdade de modo medial
e imparcial, conhecido como o Ensinamento do Meio. A mediania dessa verdade
pode ser entendida com mais clareza quando comparada com outros ensinamentos.
Para demonstrar como o princípio da Origem Dependente difere desses
entendimentos extremados, iremos agora apresentar algumas dessas idéias,
organizadas em pares, empregando as palavras do Buda como explicação e mantendo
os comentários adicionais num nível mínimo.
Primeiro
Par:
1. Atthikavada: A escola que sustenta que todas as
coisas realmente existem (realismo transcendental).
2. Natthikavada: A escola que sustenta que todas as
coisas não existem (niilismo).
“Senhor, diz-se: ‘Entendimento correto, entendimento correto’. Com referência a que existe entendimento correto?”
Em geral, Kaccayana, este mundo é
suportado por (toma como seu objeto) uma polaridade, a da existência (atthita) ou não existência (natthita). Mas quando alguém percebe com
discernimento correto a origem do mundo, tal como na verdade ela é, a noção de
‘não existência’ em relação ao mundo não lhe ocorrerá. Quando alguém percebe
com discernimento correto a cessação do mundo, tal como na verdade ela é, a noção de ‘existência’ em
relação ao mundo não lhe ocorrerá.
Em geral, Kaccayana, este mundo é escravizado por vínculos, apegos
(sustentações) e propensões. Mas uma pessoa como essa não se envolve ou se
apega a esses vínculos, apegos, fixações da consciência, inclinações ou
obsessões; nem estará ela apegada a ‘isto é o meu eu;’ ela pensa, o sofrimento
que está sujeito a surgir, surge; e o sofrimento que está sujeito a cessar,
cessa. Essa pessoa não duvida ou está perplexa. Nisso, o conhecimento dela não
depende dos outros. É com referência a isso, Kaccayana, que existe o
entendimento correto.
“’Tudo existe’”: Esse é um extremo. ‘Tudo não existe’: Esse é um outro
extremo. Evitando esses dois extremos, o Tathagata ensina o Dhamma pelo meio:
Da ignorância como requisito necessário surgem as formações. Das formações...
consciência...Do desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma
ignorância ocorre a cessação das formações. Da cessação das formações, cessa a
consciência…” [SN.II.16-17, 76; SN.III.134] (SN.XII.15)
* * *
Um brâmane se aproximou do Buda e perguntou, “Venerável Gotama, todas as
coisas existem?”
O Buda respondeu, “A idéia de que todas as coisas existem é um
entendimento materialista extremo.”
Pergunta: Então todas as coisas não existem?
Resposta: A idéia de que todas as coisas não existem é o segundo entendimento
materialista.
P: Todas as coisas, então, são únicas?
R: A idéia de que todas as coisas são únicas é o terceiro entendimento
materialista.
P: Todas as coisas, então, são uma pluralidade?
R: A idéia de que todas as coisas são uma pluralidade é o quarto
entendimento materialista.
“Brâmane! O Tathagata proclama um ensinamento que é equilibrado,
evitando esses extremos, assim, ‘Da ignorância como requisito necessário surgem
as formações; das formações como requisito necessário surge a consciência...Do
desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma ignorância ocorre a
cessação das formações. Da cessação das formações, cessa a
consciência…...'" [SN.II.77]
Segundo
Par:
1. Sassatavada: A escola da imortalidade
2. Ucchedavada: A escola da aniquilação
Terceiro
Par:
1. Attakaravada ou Sayankaravada: A
escola que sustenta a idéia de que a felicidade e o sofrimento são totalmente
autodeterminados (autogênese kammica)
2. Parakaravada: A escola que sustenta a idéia de
que a felicidade e o sofrimento são totalmente causados por fatores externos
(heterogênese kammica).
O segundo e
terceiro pares são muito importantes para a essência do ensinamento Budista. Se
forem estudados e compreendidos de forma clara, podem ajudar a evitar muitos
mal-entendidos sobre a lei de kamma.
Pergunta: O sofrimento é causado pelo eu?
Resposta: Não diga isso.
P: O sofrimento é causado por fatores externos?
R: Não diga isso.
P: O sofrimento então é causado por ambos, pelo eu e por fatores
externos?
R: Não diga isso.
P: O sofrimento então não é causado nem pelo eu e nem por fatores
externos?
R: Não diga isso.
P: Nesse caso, não existe essa coisa de sofrimento?
R: Não é que não exista essa coisa de sofrimento. O sofrimento existe.
P: Nesse caso, o Venerável Gotama não vê ou não conhece o sofrimento?
R: Não é que eu não veja ou não conheça o sofrimento. Eu de fato conheço
e vejo o sofrimento.
P: Que o Abençoado então, por favor, me diga, por favor, me instrua
sobre o sofrimento.
R: Dizer que ‘o sofrimento é causado pelo eu,’ é o mesmo que dizer
‘aquele que age recebe os resultados (sofrimento).’ Isso tende para a idéia da
imortalidade (sassataditthi). Dizer
‘o sofrimento é causado por outros agentes,’ como uma pessoa que experimenta
sensações dolorosas e penetrantes sentiria, é como dizer que ‘uma pessoa age e
uma outra sofre.’ Isso tende para a idéia da aniquilação (ucchedaditthi). O Tathagata, evitando esses dois extremos, proclama
um ensinamento que é equilibrado, assim, ‘Da ignorância como requisito
necessário surgem as formações; das formações como requisito necessário surge a
consciência...Do desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma
ignorância ocorre a cessação das formações. Da cessação das formações, cessa a
consciência…...'" [SN.II.19]
* * *
Pergunta: A felicidade e o sofrimento são causados pelo eu?
Resposta: Não diga isso.
P: A felicidade e o sofrimento são causados por fatores externos?
R: Não diga isso.
P: A felicidade e o sofrimento são causados por ambos, pelo eu e
por fatores externos?
R: Não diga isso.
P: A felicidade e o sofrimento então não são causados nem pelo eu e nem
por fatores externos?
R: Não diga isso.
P: Nesse caso, não existe a felicidade e o sofrimento?
R: Não é que não exista a felicidade e o sofrimento. A felicidade e o
sofrimento existem.
P: Nesse caso, o Venerável Gotama não vê ou não conhece a felicidade e o
sofrimento?
R: Não é que eu não veja ou não conheça a felicidade e o sofrimento. Eu
de fato conheço e vejo a felicidade e o sofrimento.
P: Que o Abençoado então, por favor, me diga, por favor, me instrua
sobre o sofrimento.
R: Compreendendo desde o princípio que a sensação e o eu são um e a
mesma coisa, existe a noção, pela qual há apego, de que a felicidade e o
sofrimento são causados pelo eu. Eu não ensino isso. Compreendendo que a
sensação é uma coisa e o eu outra, existe a noção, pela qual há apego, de que a
felicidade e o sofrimento são causados por fatores externos. Eu não ensino
isso. O Tathagata, evitando esses dois extremos, proclama um ensinamento que é
equilibrado, assim, ‘Da ignorância como requisito necessário surgem as
formações; das formações como requisito necessário surge a consciência...Do
desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma ignorância ocorre a
cessação das formações. Da cessação das
formações, cessa a consciência …...'" [SN.II.22]
* * *
“Ananda, eu digo que a felicidade e o sofrimento possuem origem
dependente. Dependente de que? Dependente do contato (phassa).
“Na dependência do corpo e da volição em relação ao corpo, a felicidade e o sofrimento podem surgir. Na dependência da linguagem e da volição em relação à linguagem, a felicidade e o sofrimento podem surgir. Na dependência da mente e da volição em relação à mente, a felicidade e o sofrimento podem surgir.
“Com esta mesma ignorância como condição, ações corporais, que são a
causa da felicidade e do sofrimento interno, são criadas. Na dependência de outras
pessoas (instigado por outra pessoa ou força externa), ações corporais, causa
da felicidade e do sofrimento interno, são criadas. Com a consciência,
atividades corporais volitivas, causa da felicidade e do sofrimento interno,
são criadas. Sem consciência, atividades corporais volitivas, causa da
felicidade e do sofrimento interno, são criadas...linguagem volitiva é
criada…pensamentos volitivos são criados…instigados por outros…com
consciência…sem consciência. Em todos esses casos, a ignorância está presente.”[21]
1. Karakavedakadi-ekattavada: A crença de que o agente e aquele
que experimenta o fruto das ações são um e a mesma coisa (a idéia monística de
unidade sujeito-objeto).
2. Karakavedakadi-nanattavada: A crença de que o agente e aquele
que experimenta o fruto das ações são coisas separadas (a idéia dualista da
distinção entre sujeito-objeto).
Pergunta: O agente e o recebedor são um e a mesma coisa?
Resposta: Dizer que o agente e o recebedor são um e a mesma coisa é um
extremo.
P: Então, o agente é uma coisa e o recebedor outra?
R: Dizer que o agente é uma coisa e o recebedor outra, é um outro
extremo. O Tathagata, evitando esses dois extremos, proclama um ensinamento que
é equilibrado, assim, ‘Da ignorância como requisito necessário surgem as
formações; das formações como requisito necessário surge a consciência...Do
desaparecimento e cessação sem deixar vestígios dessa mesma ignorância ocorre a
cessação das formações. Da cessação das formações, cessa a consciência…'" [SN.II.75]
* * *
Pergunta:Venerável Gotama, o que é o envelhecimento e morte? A quem eles
pertencem?
Resposta: Você fez a pergunta de modo não apropriado. Dizer um dos dois,
‘O que é o envelhecimento e morte, a quem eles pertencem,’ ou ‘envelhecimento e
morte são uma coisa, quem experimenta isso é outra,’ equivale a dizer a mesma
coisa, essas afirmações diferem apenas na letra. Quando existe a idéia, ‘o
princípio vital e o corpo são um e a mesma coisa,’ não pode haver a vida santa
(brahmacariya). Quando existe a idéia, ‘o princípio vital e o corpo são
duas coisas distintas,’ não pode haver a vida santa. O Tathagata, evitando
esses dois extremos, proclama um ensinamento que é equilibrado, assim, ‘Do
nascimento como requisito necessário surge o envelhecimento e a morte.’
P: Venerável Senhor, nascimento… vir a ser… apego… desejo… sensação…
contato… os meios dos sentidos…mentalidade-materialidade … consciência…
impulsos volitivos… O que é tudo isso? A quem tudo isso pertence?
R: Você fez a pergunta de modo errado… (como no caso de envelhecimento e
morte)… Devido ao completo abandono da ignorância, quaisquer idéias que
existam, que sejam confusas, ambíguas e contraditórias, tais como ‘O que é o
envelhecimento e morte, a quem eles pertencem?,’ ‘Envelhecimento e morte são uma coisa, quem experimenta isso é outra
coisa,’ ‘O princípio vital e o corpo são um e a mesma coisa,’ ‘O princípio
vital e o corpo são duas coisas distintas,’ são eliminadas, acabadas,
abandonadas e incapazes de surgir novamente. [SN.II.61]
* * *
Pergunta: Quem é aquele que recebe o contato?
Resposta: Você fez a pergunta de modo errado. Eu não digo ‘recebe o
contato.’ Se eu dissesse ‘recebe o contato,’ você poderia, nesse caso, com
razão fazer essa pergunta, ‘Quem é aquele que recebe o contato?’ Mas eu não
digo isso. Perguntar ‘em qual condição está baseado o contato?’ Seria perguntar
de modo correto. E a resposta correta seria, ‘Dos meios dos sentidos como
requisito necessário, surge o contato. Do contato como requisito necessário,
surge a sensação.’
P: Quem é aquele que experimenta a sensação? Quem é aquele que deseja?
Quem é aquele que se apega?
R: Você fez a pergunta de modo errado… Perguntar ‘Em qual condição está
baseada a sensação? O que é que condiciona o desejo? O que é que condiciona o
apego?’ seria perguntar de modo correto. Nesse caso, a resposta correta seria,
‘Do contato como requisito necessário surge a sensação; da sensação como
requisito necessário surge o desejo; do desejo como requisito necessário, surge
o apego.’ [SN.II.I3]
* * *
“Bhikkhus, este corpo não lhes pertence, nem pertence a um outro. Vocês
devem vê-lo como kamma passado, formado por condições, nascido das volições, a
base para as sensações.”.
“Com relação a isso, bhikkhus, o nobre discípulo, bem instruído,
considera de modo sábio a origem dependente de todas as coisas, assim, ‘Com o
surgimento disso, aquilo surge. Com a cessação disto, aquilo cessa. Isto é, ‘Da
ignorância como requisito necessário surgem as formações; das formações como
requisito necessário surge a consciência...Do desaparecimento e cessação sem
deixar vestígios dessa mesma ignorância ocorre a cessação das formações. Da
cessação das formações, cessa a consciência…'" [SN.II.64]
O
ensinamento da Origem Dependente mostra a verdade de todas as coisas na
natureza como tendo as características de impermantes, insatisfatórias e
não-eu, [*] e prosseguindo
de acordo com causa e efeito. Não existe necessidade de questionar a existência
ou não existência das coisas, se elas são eternas ou se são aniquiladas e assim
por diante, pois esse tipo de questões não fazem parte daquilo que é
verdadeiramente útil. No entanto, sem o claro entendimento da Origem Dependente,
as Três Características, em especial o não-eu, também será mal interpretado.
Com freqüência o ensinamento do não-eu é interpretado como significando o nada,
que está de acordo com a visão niilista (natthika), uma forma
particularmente perniciosa de entendimento incorreto.
Além de
ajudar a evitar esse tipo de idéia, a compreensão clara do princípio da Origem
Dependente irá evitar o surgimento de idéias acerca de uma Gênese ou Primeira
Causa, tal como mencionado no início
deste livro. Algumas palavras do Buda a esse respeito:
“Bhikkhus, para um nobre discípulo, que vê o surgimento dependente das
coisas em conformidade com o princípio da Origem Dependente, é impossível cair
em idéias extremas tais como: ‘O que fui no passado? Como eu era no passado?
Tendo sido o que no passado, me tornei assim?’; ou idéias como, ‘No futuro,
existirei? No futuro o que serei? No futuro como serei? No futuro no que me
transformarei?’; ou, ‘Eu sou? O que sou? Como sou? De onde surgiu este ser e para onde irá?’ – nenhuma
dessas dúvidas podem surgir nele.
Porque? Porque aquele nobre discípulo viu o surgimento dependente das
coisas em conformidade com o princípio da Origem Dependente, com clareza, tal
como é, com sabedoria perfeita.”[SN.II.26]
Nesse
contexto, alguém que vê o princípio da Origem Dependente não estará mais
inclinado a especular acerca de questões metafísicas. É por isso que o Buda
permanecia em silêncio em relação a esses temas. Ele chamava esse tipo de
questões abyakatapañha – questões que é melhor deixar sem resposta. Ao
ver o princípio da Origem Dependente, e compreender como todas as coisas fluem
ao longo do contínuo de causa e efeito, essas questões perdem todo o sentido.
Aqui vamos considerar algumas das razões porque o Buda não respondia essas
questões:
“Venerável Gotama, qual é a razão pela qual, quando os contemplativos de
outras seitas sendo assim questionados:
1. O mundo é eterno?
2. O mundo não é eterno?
3. O mundo é finito?
4. O mundo é infinito?
5. O princípio vital e o corpo são a mesma coisa?
6. O princípio vital e o corpo são separados?
7. Os seres existem após a morte?
8. Os seres não existem após a morte?
9. Os seres tanto existem como não existem após a morte?
10. Os seres nem existem, nem não existem após a morte?...
...dão respostas como ‘O mundo é eterno,’ ou ‘o mundo não é
eterno,’…’Seres nem existem, nem não existem após a morte,’ mas o venerável
Gotama, sendo assim questionado, não responde?”
“Nesse ponto, Vaccha, esses contemplativos de outras seitas acreditam que
a forma é o eu ou que o eu possui forma material, ou que a forma material está
no eu, ou que o eu está na forma material; ou que a sensação... percepção...
formações... consciência é o eu, ou que o eu possui consciência, ou que a
consciência está no eu, ou que o eu está na consciência. É por essa razão que
aqueles contemplativos, ao serem assim questionados, respondem dessa forma.
“Mas o Tathagata, Arahant, realizado, plenamente desperto, não
compreende que a forma é o eu ou que o eu possui forma material, ou que a forma
material está no eu, ou que o eu está na forma material; ou que a sensação...
percepção... formações... consciência é o eu, ou que o eu possui consciência,
ou que a consciência está no eu, ou que o eu está na consciência. Por essa razão,
o Tathagata, Arahant, realizado, plenamente desperto, ao ser assim questionado,
não faz essas afirmações ‘o mundo é eterno’ ou ‘o mundo não é eterno.’”[22]
Existe uma grande quantidade de outras teorias ou escolas que têm uma
relação especial com o conceito de kamma e que também conflitam com o princípio
da Origem Dependente. Esses casos estão cobertos no livro Kamma nos
Ensinamentos do Buda.
Início >> 7.
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Notas:
21. SN.II.39; para mais estudos veja DN.I.53 (DN 2); SN.I.134; DN.III.137 (DN 29).[Retorna]
[*] As Três Características: anicca, dukkha e anatta. [Retorna]
22. SN.IV.395; as razões porque o Buda se recusava a responder perguntas
que lidavam com a metafísica eram muitas. O mais importante é que essas
questões estão baseadas em premissas incorretas, tal como a idéia de um eu.
Elas não têm correlação com a realidade. Como diria o Buda, “Você fez a
pergunta de modo errado.” Outra razão para o silêncio é que as verdades que
essas questões perseguem não podem ser alcançadas pelo pensamento lógico e não
podem ser respondidas por meio de palavras. É
como tentar ver um quadro com as orelhas, esse tipo de deleite é uma
perda de tempo. Outra razão, visto que tais questões são inacessíveis para o
pensamento racional, debatê-las não trará resultados práticos. O principal
interesse do Buda foi de proporcionar ensinamentos que produzissem resultados
em termos práticos, assim ele abandonou as questões metafísicas e ao invés
disso, guiava os inquisidores para temas mais práticos. Se a questão fosse do
tipo que pudesse ser respondida com base na experiência pessoal, o Buda, ao
invés de prolongar as conjecturas ou o debate, mostrava ao inquisidor como ele
poderia realizar aquilo por ele mesmo. Por último, o Buda nasceu numa época em
que as questões metafísicas geravam intenso interesse, professores e filósofos
as debatiam intensamente em todo o país. Sempre que as pessoas se aproximavam
de mestres religiosos ou filósofos elas tendiam a fazer esse tipo de perguntas.
Essas perguntas se transformaram em tal obsessão que as pessoas tinham perdido
a noção da realidade prática; é por isso que o Buda não as respondia e
permanecia em silêncio. O seu silêncio não era só para refrear as discussões
metafísicas, mas também um choque poderoso no ouvinte para que prestasse
atenção àquilo que o Buda tinha para ensinar. Para as referências dessas razões
para não responder, veja MN.I.426 (MN63), MN.I.484 (MN72); SN.II.222-3; SN.IV.375; AN.IV.68; AN.V.193.[Retorna]
Revisado: 8 Fevereiro 2003